2# O poder de escutar: A calma que começa em casa, acolhe os nossos filhos
Há dias em que a casa parece um turbilhão. As vozes misturam-se, as tarefas acumulam-se, e por vezes, no meio do barulho, perdemos a capacidade de realmente escutar. Seja o/a parceiro/a a partilhar a preocupação com o trabalho, ou um amigo a contar um desafio, quantas vezes a nossa mente já está a preparar a resposta, a interromper com a nossa própria experiência, sem verdadeiramente acolher o que o outro traz?
Essa dificuldade em ouvir com atenção ecoa também na forma como nos conectamos com os nossos filhos. Pense naquela vez em que ele tentou contar alguma coisa sobre o seu dia na escola, talvez com alguma hesitação ou timidez. Presos na nossa lista mental de afazeres – o jantar, os banhos, a roupa – respondemos com um "sim, sim" distraído ou um “espera só um bocadinho”, um olhar rápido antes de voltarmos à nossa tarefa. E, naquele instante, uma pequena porta de comunicação pode ter-se fechado.
Para os companheiros/as e sobretudo para os nossos filhos, sentirem-se ouvidos é fundamental. Não se trata apenas de processar as palavras que dizem, mas de validar as suas emoções, de reconhecer a sua experiência como válida, mesmo que aos nossos olhos pareça algo pequeno ou sem importância.
Imagine o seu filho a chegar da escola, o rosto carregado: "O João não quis brincar comigo hoje." A nossa reação imediata pode ser minimizar: "Ah, amanhã ele brinca." Mas, se pararmos um instante e dissermos com um tom de voz calmo: "Hmm, isso deixou-te triste?", estamos a abrir um espaço seguro para ele expressar a sua emoção, para se sentir compreendido na sua pequena dor.
Ou quando a nossa adolescente desabafa sobre uma discussão com uma amiga: "Ela não me entende!" A nossa tendência pode ser dar logo um conselho: "Devias pedir desculpa." Mas, e se em vez disso, dissermos com empatia: "Isso magoa, não é?", estamos a validar o seu sentimento, a mostrar que estamos ali para acolher a sua dor, sem julgamentos.
Ouvir ativamente os nossos filhos não significa ter todas as respostas, nem concordar sempre com eles. Significa estar presente, com o corpo e a mente, oferecendo um espaço de escuta genuína onde se sintam seguros para partilhar o que sentem, sem medo de serem interrompidos, ignorados ou invalidados.
Estes pequenos momentos de escuta atenta constroem pontes de confiança e fortalecem os laços familiares. Ensinam aos nossos filhos que as suas vozes importam, que os seus sentimentos são válidos e que há um porto seguro onde podem desabafar. E, ironicamente, ao pararmos para ouvir, muitas vezes encontramos a calma que procurávamos no meio do turbilhão do dia a dia.
Que pequeno gesto de escuta pode oferecer hoje a alguém da sua família? Como se sentiria se fosse genuinamente ouvido naquele momento em que mais precisava? Partilhe a sua reflexão.